segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Casa

Esta casa sou eu e os outros. É o mundo e o sonho. É o real e o imaginário. É a verdade e a mentira. É o todo e o nada.

É escura a casa. Tudo encontra-se no seu lugar imutável. Não passa uma única corrente de ar, nem uma réstia de tempo - aqui vive-se a eternidade.
É neste escuro que te perdes: em todos os pensamentos, ideias, medos, esperanças, em ti mesmo.
Imagina-te aqui, nesta intemporalidade, alienado do mundo, alienado de quem és. Imagina-te nesta busca insaciável do ser, de um significado para a tua vida. Envolto em melancólicos diálogos contigo mesmo. Sente tudo tal como eu sinto, talvez assim me compreendas. Deixa-te levar para este vazio, desconecta-te dos outros, neste momento és só tu, e apenas a parte de ti que recusas ver. Sente-o. Sim, é solitude o que procuramos.
Consegues sentir a dor e a falta de sentido? Ao mesmo tempo a felicidade da grande revelação que sentes que há de vir?
É aqui que te apercebes da grandiosidade do Universo, é daqui que contemplas o mistério das estrelas. E é aqui que inevitavelmente verificas a insignificância da tua existência face a tal colossal perfeição, e é daqui que desejas fazer parte de algo maior. Desejas fazer parte desta só consciência, a qual descobriste existir, somente e apenas quando entraste na casa.
Eu sei que coisas belas e nunca antes pensadas percorrem agora a tua mente, sentes uma força inexplicável, um desejo de revelar esse secreto enigma que és, queres gritar ao mundo o que estás prestes a descobrir, essa verdade que nunca chega, mas que sentes aproximar-se cada vez mais. É tanta excitação na alma, é tanta vida... mas tanta a solidão.

E quando nessas contradições de prazer e desprazer, por entre esta escuridão, acercas-te da janela, vês luz através dela, uma luz que sempre ali esteve, a luz do prazer do mundo palpável, do prazer dos homens, a luz das ligações encarnadas. "É ali que se encontra a felicidade?" Eu sei que é confortável ficar na escura casa, é belo por vezes... mas há sempre um vazio, aquele espaço que não sabes preencher. "Será ali? Na luz que atravessa a janela? Mas que nunca ilumina-me completamente o rosto? Da qual chego nunca a fazer parte?" Eu sei no que pensas, neste momento em que já fazes parte do elenco, pensarás como eu - sai pela porta. VIVE.

...

Foi uma experiência ainda mais vazia, a luz é superficial, aquece-te a pele nos dias frios, mas não penetra dentro de ti, não chega nem perto à essência de quem és. Mas tu vê-los, aos outros que sorriem. Por entre a luz, ouves os gracejos. Aqui já o tempo passa. A verdade, é que o sentes, mas este calor de prazeres é apenas momentâneo, por vezes queimam-te fundo a pele, e aí sim, infelizmente, atravessam-te. Mas e outra vez, esse temporário deleite fica-te à superfície, muito aquém das expectativas da hipotética felicidade que idealizaste. Será porque já estiveste dentro da casa? Já experimentaste a pureza da existência, a qual valorizas mais que a uma superficial experiência de vida?
É inelutável o que virá a acontecer, podes adivinhar a que caminho me levou.

...

Estás de fronte para a casa, queres voltar, recolher-te em ti mesmo novamente, aquela luz trouxe-te demasiada confusão, externa à tua pessoa. Não era isso que procuravas...
Mas por alguma razão, é custoso novamente introduzir a chave na fechadura desta grande porta, sabes que voltarás apenas a ter a tua companhia a maior parte do tempo, e será escuro uma outra vez. Sabes que vais sentir falta de algum calor na pele... Que momento confuso e paradoxal é este?

Vais decair cada vez mais, não irás aproveitar nem de um nem de outro enquanto não te decidires. Vais entrar lentamente numa viagem longa e tortuosa a qual vir-te-às obrigado a repensar e redefinir e reavaliar conceitos que te são inerentes: luz, escuridão, vida, medo, morte, felicidade, paz, amor, sofrimento, revelação, paranóia, amizade, alma, conexão, sonho, realidade, espírito, corpo, prazer, angústia, insanidade, verdade, verdade, a verdadeira busca de ti...



Já passou. A ausência de luz faz parte de nós novamente, tudo é calmo, eterno...
Estás de volta ao teu ser de busca insaciável, mas por alguma razão tudo perdeu ainda mais o seu sentido, não vês mais hipóteses, onde mais procurar.

Hás-de limitar-te a olhar as estrelas e reflectir a complexidade do teu ser insignificante... mas se insignificante, porquê reflectido? E fica cada vês mais frio.

Sabes estive a pensar, se nesta casa etérea, produto da imaginação metafórica da qual fiz uso, não seja possível acender uma luz, sim, uma luz que iluminará de dentro dela mesma, e apesar de sentires-te fraco - talvez alguém se junte a ti, e nessa casa que outrora parecia tão vazia, encontrem força suficiente para alumiar cada recanto.















É sobre auto-conhecimento e auto-destruição. É a minha visão do ser e do amor.
É tudo que lhe está inerente.

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